Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

Não entregues tua alma à tristeza


Eclo 30,22-27

"22. Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos.
23.
A alegria do coração é a vida do homem, e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida.
24.
Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para longe de ti,
25.
pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma.
26.
A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação acarreta a velhice antes do tempo.
27.
Um coração bondoso e nobre banqueteia-se continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude."

Jo 10,10

"10 O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a
tenham em abundância."


REFLETINDO

Crescemos achando que a tristeza é algo comum da vida. Achamos que todos têm o “direito” de ficar triste de vez em quando. Esse texto de Eclesiástico vem mostrar o contrário. A tristeza é algo comum NA vida e não DA vida. NA vida porque todos os dias somos colocados diante de situações que nos alegram ou nos entristecem. Problemas, limites, perdas e aspirações inatingíveis são causas de tristeza. Mas não é próprio DA vida porque Deus não nos criou para a infelicidade e o desânimo.

O Eclesiástico ensina que a tristeza leva à morte. Ela abrevia a vida. Ora, se Jesus disse que veio para dar vida e vida em abundância, então a tristeza não é de Deus. Mais que isso, a tristeza é contrária à Deus, pois ela tira a vida que Jesus veio dar em abundância.

O texto nos ensina que a tristeza é como um ladrão, que age furtivamente, levando embora nossas forças e deixando apenas um vazio imenso. O pior é que nós não lutamos contra esse ladrão. Muitas vezes nós mesmos entregamos nossa alma ao ladrão, à tristeza.

O mesmo versículo do Evangelho de João, citado acima, diz logo no começo que o ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir. Assim é também a tristeza: ela rouba nossas forças, nosso ânimo, mata a nossa fé e destrói o projeto de vida e felicidade que Deus tem para nós. Se a alegria do coração é a vida do homem, não entreguemos nosso coração à tristeza, pois estaremos entregando nossa vida a um ladrão.

O Eclesiástico é direto ao advertir que somos nós mesmos que criamos a tormenta. Nossa imaginação, nossos medos, nossos dúvidas são instrumentos de criação da tristeza. Sempre queremos culpar os outros pelos nossos problemas, quando muitas vezes eles nascem dentro de nós. Sobretudo em relacionamentos que não deram certo, costumamos sempre responsabilizar o outro por nossa incapacidade de levantar e seguir adiante, abertos a um amor verdadeiro, vindo de Deus.

Se nossos pensamentos são ferramentas para fabricação da tristeza, se a nossa mente é o ambiente, a oficina em que essa fabricação acontece e se a tristeza é contrária ao projeto de Deus, então quem é o artesão? A resposta fica evidente naquele ditado popular “Mente parada, oficina do diabo”. A sabedoria popular aprendeu aquilo que a Bíblia ensina tão sabiamente.


O texto continua nos contando algo maravilhoso. A alegria é um inesgotável tesouro de santidade. Talvez poucas vezes nós percebamos a tamanha importância da alegria. Ela nos conduz para o objetivo final do cristão, a santidade. Por isso o maligno tenta acabar com nossa alegria, para nos impedir de chegarmos a plenitude de espírito. Porque o coração alegre caminha cheio de forças, superando dificuldades e atinge seus objetivos, mas o coração triste e abatido vacila, tropeça e cai nas primeiras dificuldades.

Fica evidente a ação demoníaca na tristeza, visto que a alegria prolonga a vida humana, conforme a vontade de Deus, e a tristeza abrevia os dias, conforme intenciona o maligno.

O autor do texto mais uma vez nos lança algo inesperado. Ele nos instrui a termos compaixão de nossas almas. Entregar a alma à tristeza e ao desânimo é uma atitude tão miserável que a pessoa se torna impiedosa com ela mesma. Mais ainda, é uma atitude que desagrada a Deus. É cometer suicídio a prazo. Ir se matando aos poucos. Por isso o autor alerta para nos tornarmos agradáveis a Deus e sermos FIRMES. FIRMEZA, essa é a palavra do cristão.

Outra coisa que chama a atenção é o conselho para concentrarmos nossos corações na santidade. Ao mesmo tempo em que a alegria contínua ajuda a chegar à santidade, a santidade deve ser também fonte de alegria. Um coração concentrado na santidade é um coração abarrotado de alegria e que transborda essa vida para tantos quanto estiverem perto.

O banquete é sinal de festa. Sinônimo de alegria. O coração bondoso e nobre banqueteia-se continuamente e não apenas algumas vezes. A alegria que proporciona o banquete é constante na vida do cristão. Aliás, o cristão pode encontrar a maior alegria no banquete eucarístico.


Interessante notar que o autor do texto fala que aquele que vive a alegre santidade banqueteia-se continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude. Quem prepara o banquete é o dono da casa. É ele quem prepara os alimentos, serve aos convidados e se serve. Se o dono só escolhe bons alimentos e só se serve daquilo que é bom seu banquete é contínuo, pois é preparado com solicitude (com carinho e zelo). De outra forma se o cristão só escolhe alimentos estragados e de baixa qualidade, seu banquete será ruim e demorará a acontecer.

Diante de tudo isso reflitamos sobre que instrumentos estamos guardando no nosso coração e para que artífice nós os damos. Não devemos entregar o barro de nosso coração para o maligno fazer lama com ele. Devemos entregar nosso barro nas mãos do Senhor, verdadeiro artista, para ele nos modelar em vasos magníficos. Não sejamos lama disforme nas mãos do tentador, mas sejamos vasos resistentes, forjados no fogo, servindo aos desígnios de Deus.


É preciso que escolhamos os melhores alimentos para nosso banquete. A alegria é o melhor tempero para a bondade e a nobreza. Que na nossa vida possamos aprender a viver o banquete diário de alegria e santidade.

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