Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo - Origem e Significado



“A Igreja nada considera mais venerável, após a celebração anual do Mistério da Páscoa, do que comemorar o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações” (NUALC 32). A solenidade do dia 25 de dezembro ocupa o centro de todo o ciclo e, ao mesmo tempo, conserva uma relação especial com a Páscoa. A celebração natalina do Senhor se inicia com as primeiras vésperas do Natal e termina no domingo depois da Epifania.

A característica mais visível deste período é o acúmulo de festas. As principais são o dia 25 de dezembro e a Epifania, no dia de janeiro; no domingo seguinte ao Natal, celebra-se a festa da Sagrada Família; no dia 1º de janeiro, oitava de Natal, a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus; e no domingo depois da Epifania, a festa do Batismo do Senhor. Naqueles lugares onde o dia 6 de janeiro não é dia de preceito, a Epifania é transferida para o domingo que cair entre o dia 2 e o dia 8 de janeiro. Por outro lado, conserva-se a oitava de Natal, que inclui, nos dias 26,27 e 28 de dezembro, as festas de santo Estêvão, de são João Evangelista e os santos Inocentes. Depois do dia 1º de janeiro, os dias de semana do Natal têm categoria menor.

A liturgia romana dedica à preparação do Natal quatro semanas com seus respectivos domingos. O Advento começa nas primeiras vésperas do domingo e cai no dia 30 de novembro ou no dia mais próximo desta festa, e termina antes das primeiras vésperas do Natal. A partir do dia 17 de dezembro, intensifica-se a preparação para o Natal. As férias são independentes dos domingos.

A história de todo esse ciclo não é uniforme. Com efeito, enquanto os livros litúrgicos atuais começam no primeiro domingo do Advento, os antigos sacramentários começavam no dia 25 de dezembro.

A primeira notícia histórica do Natal vem do cronógrafo copiado por Fúrio Dionísio Filócalo, em 354, embora remonte ao ano 336, que contém a depositio martyrum e a depositio episcoporum da Igreja de Roma. Encabeçando a primeira lista, no dia 25 de dezembro, se lê: VIII kal. Ian. natus est Christus in Betlehem Iudeae.

No entanto, apesar das pesquisas, não se sabe com certeza qual teria sido o motivo da escolha do dia 25 de dezembro como data da festa do Nascimento do Senhor. A coincidência do dia 25 de dezembro com a festa pagã do Natalis (soli) invicti, estabelecida no ano 275 pelo imperador Aureliano no solstício de inverno, fez pensar que o cristianismo teria querido resistir à festa pagã propondo a celebração do nascimento de Cristo, o verdadeiro sol de justiça (cf. Ml 4,2; Lc 1,78).


Na Roma antiga celebrava-se nesse dia a festa do Sol Invencível. De acordo com os cálculos daquele tempo, o dia 25 de dezembro marcava o solstício de inverno. Ou seja, no Hemisfério Norte, é o dia em que o sol parece mais fraco (isso não acontece no Hemisfério Sul). O sol é fonte de calor. Nessa época, essa força parecia estar vencida e a ponto de morrer. Mas, nos dias seguintes, pouco a pouco ia se tornando mais forte e brilhante. Isso demonstrava para o povo daquele tempo que o sol era forte e invencível. Por volta do ano 275 da nossa era, o imperador romano Aureliano criou a festa do Sol Invencível.

Supostamente, os cristãos daquele tempo teriam aproveitado essa idéia e a transformado completamente. O Natal do Sol Invencível passava a ser o Natal de Cristo. Isso porque o simbolismo da luz é muito importante na Bíblia. De fato, os primeiros cristãos gostavam de chamar Jesus de “Sol de Justiça”, “Esplendor do Pai”, “Luz do Mundo” e outros títulos ligados à luz.

Uma segunda hipótese se baseia no cálculo da data da Morte de Cristo, segundo a crença antiga de que esta teria acontecido no mesmo dia em que aconteceu a encarnação. A data de 25 de dezembro teria sido fixada, portanto, com base no dia 25 de março, data estimada da morte.

Uma terceira hipótese se apóia no objeto da festa segundo as homilias patrísticas, especialmente as de são Leão Magno (440-461), a testemunha mais qualificada sobre o sentido original do Natal na liturgia romana, autor, por outro lado, do famoso tomus ad Flavianum enviado ao Concílio de Calcedônia. A rápida difusão da festa se explica mais facilmente pela necessidade de afirmar e difundir a fé autêntica no mistério da encarnação do que pelo afã de resistir a uma festa pagã. O Concílio de Nicéia foi celebrado no ano 325 e os concílios seguintes tiveram que fazer frente a diversos erros cristológicos. De fato, em fins do século IV o Natal já era celebrado no norte da África (360), na Espanha (384), em Constantinopla (380), em Antioquia (386), na Capadócia etc.


A liturgia papal de Roma, a partir do século V, compreendia três estações no dia 25 de dezembro: Santa Maria Maior – junto ao presépio – à meia-noite; Santa Atanásia, ao amanhecer, e São Pedro, ao clarear o dia. Com origem diferente quanto à época, as três celebrações se difundiram com os livros litúrgicos romanos. No século VI, introduziu-se a vigília do Natal com jejum e uma missa vespertina, e provavelmente também a oitava no dia 1º de janeiro. A festa de santo Estêvão, a de são João Evangelista e a dos Inocentes remontam pelo menos ao século VI na liturgia romana, embora já fossem celebradas desde o século IV na liturgia síria, com a particularidade de incluir também a festa de são Pedro e são Paulo, a de são João e são Tiago no dia 27, não havendo a festa dos santos Inocentes. As demais liturgias ocidentais seguem a liturgia romana, mas comemorando também, no dia 27, o apóstolo são Tiago.

Mais recentemente, outra teoria propõe que Jesus teria nascido sim no dia 25 de Dezembro. Seis meses antes da Anunciação do anjo à Maria, já Isabel havia concebido João Batista. O Evangelho de Lucas nos diz que Zacarias, esposo de Isabel, pertencia à classe sacerdotal de Abias e estava desempenhando sua função sacerdotal na ordem de sua classe.

5...houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel.
8. Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe...” (Lc 1)

No antigo Israel a casta sacerdotal estava dividida em 24 classes, que se alternavam seguindo uma ordem fixa e imutável, para prestar serviço no templo, por uma semana, duas vezes por ano. A classe a que pertencia Zacarias – a classe de Abias – era a oitava da ordem. Mas quando ocorriam seus turnos de serviço? Isso ninguém sabia. Mas, recentemente, o professor Shemarjahu Talmon, docente da Universidade Hebraica de Jerusalém, trabalhando em conjunto com outros especialistas e usando, sobretudo, textos da biblioteca de Qumran, conseguiu desvendar o enigma.


Ele conseguiu determinar a ordem em que trabalhavam as classes sacerdotais. A classe de Abias prestava serviço no templo duas vezes por ano, uma delas na última semana de setembro. Isso confirma a tradição oriental de que Isabel teria recebido o anúncio de sua gravidez em Setembro e é exatamente 6 meses antes do anúncio do anjo à Maria, como indicam os textos bíblicos.

Portanto, segundo essa teoria recente, é possível que realmente os fatos tenham acontecido na ordem em que são celebrados hoje em dia. Entre os dias 23 e 25 de Setembro, a concepção de João Batista (celebrada pela igreja do oriente); 6 meses depois, em 25 de Março, a anunciação do anjo à Maria; mais 3 meses e temos a natividade de São João Batista em 24 de Junho; e mais 6 meses temos o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo em 25 de Dezembro.

Não sabemos se os cristãos dos primeiros séculos conheciam essa informação do nascimento de Jesus, mas podemos ter a certeza de que a definição da data não foi dada ao acaso, nem determinada por uma ameaça pagã, mas sim iluminada pelo Espírito Santo.


De tudo isso o mais importante não é saber a data exata do nascimento, mas conhecer Aquele que é celebrado e Sua importância para a salvação humana. Conhecer Jesus, Seu exemplo, Seus ensinamentos é verdadeiramente celebrar o Natal. Celebrar diariamente o nascimento do Cristo em nossos corações. Celebrar a vitória da Luz sobre as trevas, da vida sobre a morte, do Amor sobre o pecado.
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Os profetas, com voz poderosa,
anunciam a vinda de Cristo,
proclamando a feliz salvação,
que liberta no tempo previsto.

Ao fulgor da manhã radiosa,
arde em fogo o fiel coração,
quando a voz, portadora de glória,
faz no mundo soar seu pregão.

Não foi para punir este mundo
que ele veio na vinda primeira.
Ele veio sarar toda chaga
e salvar quem no mal perecera.

Mas a vinda segunda anuncia
que o Cristo Senhor vai chegar,
para abrir-nos as portas do reino
e os eleitos no céu coroar.

Luz eterna nos é prometida
e se eleva o astro-rei salvador,
que nos chama à grandeza celeste
com a luz do divino esplendor.

Ó Jesus, só a vós desejamos
para sempre no céu contemplar,
e por vossa visão saciados,
glória eterna sem fim vos cantar.

(Laudes do dia 24/12)


FONTES:
MARTÍN, Julián Lopéz. A Liturgia da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 373,379-382.
BORTOLINI, José. Tire suas dúvidas sobre Bíblia. 159 repostas esclarecedoras. Paulus. p. 79.


Tayson Queiroz

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