O homem vê a face, mas o Senhor olha o coração!

1 Samuel 16

1. O Senhor disse-lhe: Até quando chorarás tu Saul, tendo-o eu rejeitado da realeza de Israel? Enche o teu corno de óleo. Vai; envio-te a Isaí de Belém, porque escolhi um rei entre os seus filhos.
4. Fez Samuel como o Senhor queria. Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade vieram-lhe ao encontro, inquietos: É de paz a tua vinda?, perguntaram-lhe.
5. Sim, disse ele; venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos para a cerimônia. Ele mesmo purificou Isaí e seus filhos e os convidou ao sacrifício.
6. Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: Certamente é esse o ungido do Senhor.
7. Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração.
10. Isaí mandou vir assim os seus sete filhos diante do profeta, que lhe disse: O Senhor não escolheu nenhum deles.
11. E ajuntou: Estão aqui todos os teus filhos? Resta ainda o mais novo, confessou Isaí, que está pastoreando as ovelhas. Samuel ordenou a Isaí: Manda buscá-lo, pois não nos poremos à mesa antes que ele esteja aqui.
12. E Isaí mandou buscá-lo. Ele era louro, de belos olhos e mui formosa aparência. O Senhor disse: Vamos, unge-o: é ele.
13. Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. Samuel, porém, retomou o caminho de Ramá.

REFLETINDO

Essa passagem mostra o quanto nós pensamos diferente de Deus. Quase sempre nos deixamos levar pela aparência, seja positiva ou negativamente. Ficamos com a imagem porque é mais fácil do que procurar conhecer a essência das coisas. Nossa humanidade nos diferencia de Deus, mas é a forma como decidimos agir e pensar que nos distancia d’Ele. Por isso o profeta fala:

“8. Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor;
9. mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.” (Is 55)

O próprio Samuel, profeta de Deus, se deixou levar pelas aparências quando viu Eliab. Com certeza Samuel achou que fosse Eliab, por ser o primogênito, o filho mais velho, com mais respeito e direitos dentre os 8 irmãos. Mas Deus, como em tantos outros casos, não escolhe os mais velhos, mais fortes e respeitados, e sim os mais jovens e humildes. É por isso que o salmista diz:

“10. Não é o vigor do cavalo que lhe agrada, nem ele se compraz nos jarretes do corredor.
11. Agradam ao Senhor somente os que o temem, e confiam em sua misericórdia.”

[Sl 146 (Heb. 147)]

Tanto é o apego dos homens à aparência que também Isaí achou que deveria apresentar seus filhos a Samuel, começando dos mais velhos, por ordem decrescente de idade. Primeiro foi Eliab, depois Abinadab, Sama e assim por diante. A prova de suas idades encontra-se mais adiante, no cap. 17 de 1Samuel:

“13. Seus três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. Chamavam-se: o primogênito Eliab, Abinadab o segundo e o terceiro Sama.”

Para nós o que importa, muitas vezes, é  a aparência, mas para Deus é o coração. É por esse motivo que os 7 filhos mais velhos de Isaí são apresentados a Samuel e nenhum deles é escolhido por Deus. Finalmente só restava 1 filho, Davi. O jovem Davi era o mais novo (portanto, o último na ordem de direitos familiares) e, além disso, era pastor, profissão dos mais humildes.

A essa altura Samuel já havia compreendido que a aparência realmente não importava. Ele poderia simplesmente ter rejeitado Davi antes de conhecê-lo, mas teve o entendimento de que as bênçãos de Deus se manifestam sobre os humildes. Tanto foi esse entendimento de Samuel que ele decidiu que ninguém comeria antes que Davi chegasse.

Quando o jovem Davi chegou, o Senhor logo se manifestou e disse que ele era o escolhido. Aliás, para Deus, a profissão parece não ser impedimento para servi-lo, mas, ao contrário, parece ser fundamental, tantos são os episódios da Bíblia, onde o pastoreio aparece relacionado ao serviço de Deus. Só por exemplo:

Abel, filho mais novo de Adão, era pastor e agradável a Deus (Gn 4,1-4);

Jacó e seus filhos eram pastores (Gn 46,31);

Moisés era pastor das ovelhas de seu sogro Jetro (Ex 3,1);

O salmista louva o Senhor como seu pastor [Sl 22 (Heb. 23)];

O próprio Senhor se apresenta como pastor (Is 40,11);

O Senhor apresenta Ciro como pastor de Suas ovelhas (Is 44,28)

Jesus se apresenta como o bom-pastor (Jo 10,11)

e Pedro que é intimado 3 vezes por Jesus a assumir a condução de Suas ovelhas (Jo 21,15-17).

Mas algo talvez chame a atenção de quem leia essa passagem. Deus disse que não olhava a aparência, mas Davi “era louro, de belos olhos e mui formosa aparência.” Como se explica isso?

Realmente Deus não olha a aparência. Saul também era muito bonito, mas nem por isso foi um bom rei.

“2. Tinha um filho chamado Saul, que era jovem e belo. Não havia em Israel outro mais belo do que ele; dos ombros para cima sobressaía a todo o povo.”

Talvez a beleza de Davi fosse apenas um atributo que Deus escolheu, não por ser importante, mas porque Ele sabia que o povo julgaria importante. O Senhor, mesmo tendo pensamentos infinitamente superiores aos nossos, não nos deixa entregues aos nossos próprios julgamentos. Saul não era bom rei, mas era forte e bonito. Se Davi, fosse feio, com certeza desagradaria ao povo, que o rejeitaria.

Podemos pensar ainda quantas vezes rejeitamos alguém por sua aparência. Pode ser um religioso, um membro do grupo/pastoral, um político ou mesmo alguém que trabalha conosco.

SOMOS RÁPIDOS EM JULGAR E, POR ISSO MESMO, RÁPIDOS EM ERRAR.

Foi o que aconteceu na eleição presidencial de 1989, quando o candidato “bonito e renomado” teve a preferência do povo em relação ao candidato “feio e popular” e depois foi rejeitado por seus próprios eleitores.

O contrário também é válido. Não podemos  assumir uma postura extremista e julgar que alguém seja mau só “porque é bonito e Deus não olha a beleza...” Achar que só os mal-aparentados são bons... É por isso que o Senhor escolheu Davi, mesmo sendo bonito.

Nossas escolhas não devem se basear no critério aparências, de forma alguma. Nem julgar algo como bom por ser aparentemente bonito e agradável, nem julgar como bom por ser feio e desagradável, só porque Deus não olha as aparências. Devemos fazer escolhas pela análise cuidadosa daquilo que realmente importa: o ser, o agir das pessoas e não suas aparências.

QUE DEUS NOS ILUMINE PARA ENXERGARMOS NÃO COM OLHOS HUMANOS, MAS COM OLHOS DIVINOS! QUE A CORRETA VISÃO DO MUNDO NOS FAÇA ALCANÇAR O ENTENDIMENTO VERDADEIRO DAS COISAS E, ASSIM, CAMINHAR PARA A SANTIDADE!

Tayson Queiroz