Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

O Advento


“Adventus” significa “vinda”. Deus vem à humanidade e esta é uma dimensão fundamental da nossa fé.

Vivemos a nossa fé quando estamos abertos à vinda de Deus, quando perseveramos no Advento. [...] a Virgem Maria estava aberta à vinda de Deus. Ela nos introduz no Advento.

Penso, acima de tudo, no Advento que se realiza no Sacramento do Santo Batismo. Eis que um homem vem a este mundo: nasce como filho de seus genitores; vem a este mundo com a herança do pecado original.

Os pais, sabendo dessa herança e inspirados pela fé nas palavras de Cristo, levam o filho para batizar.

Desejam abrir a alma do filhinho à vinda do Salvador, ao seu “Advento”.

Deste modo, o Advento indica o início da nova vida: arranca-se, de certo modo, do recém-nascido, o selo do pecado original e ele recebe o enxerto da nova vida, da vida divina.

Mas o Cristo não vem “de mãos vazias”: Ele nos traz a vida divina; quer que tenhamos a vida, e a vida em abundância (cf. Jo 10,10).

Cada Paróquia é um lugar onde se fazem batizados... Assim a Paróquia vem a ser o lugar da “Vinda”: continuamente persevera no Advento e em cada novo paroquiano aguarda a “Vinda do Senhor”.

JOÃO PAULO II


Os domingos do Advento


O Advento é desconhecido em Roma antes do século VII. O Natal não tinha preparação especial então, pois as têmporas de dezembro eram ainda independentes. As primeiras notícias de alguma preparação para o Natal vêm do Concílio de Zaragoza (380). Os formulários de missa que se encontram sob o título De adventu Domini, no final dos sacramentários gelasianos (de origem romano-galicana), provavelmente tinham a ver não com a preparação do Natal, mas sim com a lembrança da última vinda de Cristo, como sugere sua colocação. No entanto, essa temática se viu atraída aos poucos pela lembrança da expectação que precedeu a manifestação histórica do Messias. O Rótulo de Ravena, embora seja do século V, se move já nessa perspectiva. As liturgias orientais, por sua vez, nunca tiveram celebrações específicas do Advento.

Por outro lado, percebem-se também flutuações quanto ao número de semanas do Advento original: seis em alguns testemunhos e quatro em outros. O número de quatro domingos foi fixado somente a partir dos séculos VIII-IX.


A Igreja, ao celebrar o Advento unido ao Natal, está consciente de cumprir ao mesmo tempo a espera do antigo Israel na expectativa messiânica, e sua própria espera da consumação da filiação divina comunicada por Cristo em sua vinda histórica.

“Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus.” (Rm 8,19)

“Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando o Cristo aparecer, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é.” (1Jo 3,2)

Essa temática descansa sobre os quatro domingos, seguindo as linhas do Lecionário da missa, que dá unidade aos três ciclos A, B e C:



Ano A
Ano B
Ano C
Significado
I Dom.
Is 2,1-5
Is 63,16-17; 64,1.3-8
Jr 33,14-16
Domingo da Vigilância
Rm 13,11-14
1Cor 1,3-9
1Ts 3,12 4,2
Mt 24,37-44
Mc 13,33-37
Lc 21,25-28.34-36
II Dom.
Is 11,1-10
Is 40, 1-5.9-11
Br 5,1-9
Domingo da Conversão
Rm 15,4-9
1Pd 3,8-14
Fl 1,4-6.8-11
Mt 3,1-12
Mc 1,1-8
Lc 3,4-6
III Dom.
Is 35,1-6.10
Is 61,1-2.10-11
Sf 3,14-18
Domingo da Alegria
Tg 5,7-10
2Ts 5,16-24
Fl 4,4-7
Mt 11,2-11
Jo 1,6-8.19-28
Lc 3,10-18
IV Dom.
Is 7,10-14
1Sm 7,1-5.8.12.14.16
Mq 5,2-5
Domingo da Esperança
Rm 1,1-7
Rm 16,25-27
Hb 10,5-10
Mt 1,18-24
Lc 1,26-38
Lc 1,39-45

Com efeito, essas leituras fazem com que o I DOMINGO gire todo ele em torno da vigilância e da prática das boas obras da luz na espera escatológica da última vinda do Senhor. A leitura patrística deste domingo medita sobre os dois adventos de Cristo. A esperança é a nota dominante como atitude fundamental da vida cristã.

O II DOMINGO, embora dentro da mesma tônica escatológica, introduz os avisos de João Batista: “Preparai os caminhos do Senhor”. Sua linguagem veemente, inspirada em Isaías e Baruc (1ª leitura, anos B e C), chama à conversão e à mudança de vida. A leitura patrística atualiza a figura do Batista na pregação dos enviados de Cristo. Tanto nesse domingo como no anterior, as antífonas e as orações da missa convidam a sairmos corajosos para o encontro com o Senhor que vem.

O III DOMINGO do Advento, denominado Gaudete (alegrai-vos!), segundo o conselho paulino de Fl 4,4-5 (2ª leitura, ano C), está todo ele marcado pela alegria “porque o Senhor está perto” (cf. oração do dia). Novamente o Batista reflete as atitudes do Advento, como destaca a leitura patrística do ofício.

O IV DOMINGO se situa já nos acontecimentos que precederam o nascimento de Jesus. É o domingo das anunciações a José (evangelho do ano A), a Maria (evangelho do ano B) e a Isabel (evangelho do ano C), o domingo em que a figura de Maria, a Mulher (Nova Eva) e Mãe do Senhor, confere uma nota singular a toda a celebração.

A Liturgia das horas dos domingos do Advento contribui para delinear a celebração da espera nas duas vindas de Cristo. O ofício das leituras segue o livro de Isaías em união com as férias. Para as demais horas, usa-se o saltério das quatro semanas com antífonas, leituras breves, responsórios e preces próprias.


Os dias de semana do Advento


São o complemento dos domingos, mas formam dois blocos, até o dia 16 de dezembro e desde o dia 17 até o dia 24. Nos dias de semana até o dia 16 de dezembro se lê o livro de Isaías como primeira leitura da missa, seguindo a mesma ordem do livro, sem excluir os fragmentos que são lidos também nos domingos. Os evangelhos destes dias estão relacionados com a primeira leitura. No entanto, desde a quinta-feira da segunda semana, as leituras do evangelho se referem a João Batista, de maneira que as primeiras leituras continuam o livro de Isaías ou contêm um texto relacionado com o evangelho. Na última semana antes do Natal, são lidos na primeira leitura textos proféticos relacionados com o evangelho, e neste os acontecimentos que preparam o nascimento do Senhor.

O Lecionário patrístico do ofício das leituras oferece, durante as férias até o dia 16 de dezembro, uma ótima meditação sobre a segunda vinda de Cristo e sobre as atitudes no Advento. A partir do dia 17 são um comentário dos evangelhos das missas. Nas outras horas do ofício, repetem-se a cada semana as séries de leituras breves, responsórios e preces, com grande abundância de textos.

Uma característica importante dos dias da semana a partir do dia 17 é o uso das célebres “antífonas do Ó” nas vésperas e no aleluia do missa. Essas antífonas são uma belíssima recriação poética dos títulos messiânicos de Cristo. As orações destes dias, tomadas em parte do Rótulo de Ravena, possuem uma notável inspiração mariológica.

O dia 24 de dezembro tem uma missa da manhã que é toda uma abertura do mistério do Natal. Inclusive a oração do dia é dirigida ao próprio Jesus, contra o que é habitual na liturgia romana. Uma ou outra vez os textos do ofício anunciam: “Hoje sabereis que o Senhor vem”.


Fonte: MARTÍN, Julián Lopéz. A Liturgia da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 373,379-382

Comentários

Mais Visitadas

Total de visualizações de página