Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

Quem é o meu próximo? (O bom samaritano)


Lc 10,25-37

Naquele tempo:
25. Um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: 'Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?'
26. Jesus lhe disse: 'O que está escrito na Lei? Como lês?'
27. Ele então respondeu: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!'
28. Jesus lhe disse: 'Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás.'
29. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: 'E quem é o meu próximo?'
30. Jesus respondeu: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto.
31. Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado.
32. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado.
33. Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão.
34. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele.
35. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: 'Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais.'
E Jesus perguntou:
36. 'Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?'
37. Ele respondeu: 'Aquele que usou de misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai e faze a mesma coisa.'


REFLETINDO


Esse trecho do evangelho nos coloca diante de nós mesmos, a partir da figura do doutor da Lei. Um homem que supostamente vive segundo a Palavra de Deus: estudioso, publicamente religioso, conhece as Escrituras, pratica os rituais previstos na Lei, mas que sente dificuldade em amar o próximo.

É contraditório que um homem tão ‘sábio’, capaz de cumprir tantos preceitos, seja incapaz de fazer algo simples como amar o próximo... ter misericórdia... Mas é essa uma das grandes dificuldades que afligem aqueles que querem levar uma vida religiosa.

Errar e não aceitar os erros do outro. Pedir perdão e não perdoar as ofensas recebidas. Buscar o crescimento espiritual e não ir além das barreiras impostas pela lógica humana. Questionar as misérias humanas e não ser capaz de ajudar quem necessita.

É a partir dessas contradições que Jesus nos ensina a lógica do Reino, a lógica do oposto. Como diz a música da Aline Brasil: “Preciso ser o oposto do que o mundo é...”

Diante de um mestre da Lei, Jesus usa a Lei para dialogar e o desestabiliza. Jesus pergunta:

'O que está escrito na Lei? Como lês?'

Aqui Jesus quer evitar um discurso filosófico vazio do mestre da Lei e pergunta o que está escrito, tal como se lê. Sem tirar, nem pôr. O mestre da Lei responde, mas fica em situação desconfortável porque, sendo publicamente um ‘cumpridor’ da Lei, estaria obrigado a cumprir este mandamento tal como disse. Para sair da “saia justa”, fingindo ter dúvidas sobre este mandamento, para justificar sua incoerência, ele pergunta a Jesus:

'E quem é o meu próximo?’

Jesus, então, narra uma parábola. Nessa narrativa podemos ver a lógica do oposto, para o mal (na perspectiva humana) e para o bem (na perspectiva divina).

Um homem está sem nada, machucado e quase morto. Um sacerdote, representante da espiritualidade do povo, encontra com ele POR ACASO e segue adiante, pelo outro lado (O LADO OPOSTO). Um levita, conhecedor da Lei, pouco abaixo dos sacerdotes, também encontra o homem e toma o LADO OPOSTO. Então um samaritano (inimigo dos judeus, pela lógica humana), que viajava pela região, vê aquele homem e vem do LADO OPOSTO para JUNTO do judeu ferido.

O samaritano, que fazia parte de um povo rejeitado pelos judeus, teve misericórdia daquele judeu caído, enquanto nenhum de seus conterrâneos teve.

Mais do que isso, tratou aquele judeu como se fosse ele mesmo. Cuidou de suas feridas, derramando seu óleo e seu vinho, colocou-o em seu próprio animal, gastou dinheiro com pensão e se comprometeu a pagar os gastos excedentes.
QUEM FARIA ISSO A UM DESCONHECIDO? Ainda mais sabendo que se tratava de um povo rival?

“Quem seria esse PRÓXIMO que faria isso por mim?”, deve ter pensado o mestre da Lei.

Mas Jesus o diz para ser não como o judeu caído, mas como o samaritano. Ele mesmo é que seria o PRÓXIMO! O judeu que no começo se LEVANTOU para falar com malícia, agora deveria se CURVAR com humildade para ajudar os necessitados.

'Vai e faze a mesma coisa.'

Jesus ensina que não se deve esperar encontrar o PRÓXIMO pelo caminho. Muitas vezes nos decepcionaremos. Mas devemos nós mesmos ser o PRÓXIMO de quem necessita.

Quando não se tem certeza sobre alguém que pede um favor, uma esmola, uma palavra, um consolo, uma atenção, uma roupa, um prato de comida, uma oração... não se deve teorizar sobre quantas vezes essa pessoa foi o meu PRÓXIMO, mas devo eu mesmo, independente da minha lógica humana e das diferenças existentes, me tornar o PRÓXIMO desse alguém que necessita.


QUE O SENHOR NOS ENSINE A HUMILDADE DE PERCEBER O PRÓXIMO NAQUELES QUE MAIS NECESSITAREM, DE MODO QUE POSSAMOS NOS FAZER MAIS PRÓXIMOS DE DEUS NA PROXIMIDADE COM OS IRMÃOS. ASSIM SEJA!


Tayson Queiroz

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