Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

Conhecendo a Quaresma - Estrutura do Tempo Quaresmal



Celebrar a Quaresma significa “penetrar profundamente no mistério de Cristo por meio das celebrações anuais do sacramento quaresmal”. A Quaresma é um sinal definido fundamentalmente pela graça e pela salvação conseguidas por Cristo, novo Israel (cf. Mt 2,15), e pela conversão, pela fé, pelo batismo e pela penitência (cf. SC 109-110).

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

A celebração atual deste dia reinterpretou o rito da cinza (cf. Gn 3,19) como expressão da vontade de conversão diante do chamado de Deus. Por isso, introduziu-se uma nova bênção sobre aqueles que vão receber as cinzas e se situou o rito depois da homilia. As leituras da missa convidam à autenticidade das obras penitenciais da Quaresma: Jl 2,12-18; 2Cor 5,206,2 e Mt 6,1-6.16-18. A Liturgia das Horas completa essa perspectiva, programática para toda a Quaresma, com o texto de Is 58,1-12 e de outros profetas, com uma passagem da Primeira Carta de São Clemente no ofício das leituras. Os outros textos propõem as atitudes para viver a Quaresma.

Os dias de semana seguintes à Quarta-Feira de Cinzas se mantêm na mesma linha, com textos sobre as obras penitenciais. Na quinta-feira depois das Cinzas começa-se a leitura semicontínua do Livro do Êxodo no ofício das leituras.

OS DOMINGOS DA QUARESMA

Constituem a trama de toda a Quaresma, especialmente no ano A, de acentuado caráter batismal. O ano B, ao contrário, desenvolve uma linha cristológico-pascal, enquanto o ano C é mais penitencial. Mas o I e o II domingos dos três anos têm maior acento cristológico, enquanto o III, o IV e o V domingos têm acento eclesiológico e sacramental. O Domingo de Ramos tem fisionomia própria. A seguir, a série de leituras dominicais da missa:


Ano A
Ano B
Ano C
I Dom.
Gn 2,7-9;3,1-7
Gn 9,8-15
Dt 26,4-10
Rm 5,12-19
1Pd 3,18-22
Rm 10,8-13
Mt 4,1-11
Mc 1,12-15
Lc 4,1-13
II Dom.
Gn 12,1-4a
Gn 22,1-2.9.15-18
Gn 15, 5-12.17-18
2Tm 1,8-10
Rm 8,31-34
Fl 3,174,1
Mt 17,1-9
Mc 9,1-9
Lc 9,28-36
III Dom.
Ex 17,3-7
Ex 20,1—17
Ex 3,1-8.13-15
Rm 5,1-2.5-8
1Cor 1,22-25
1Cor 10,1-6
Jo 4,5-42
Jo 2,13-25
Lc 13,1-9
IV Dom. (Laetare)
1Sm 16,1.6-7.10-13
1Cr 36,14-16.19-23
Js 5,9-12
Ef 5,8-14
Ef 2,4-10
2Cor 5,17-21
Jo 9,1-41
Jo 3,14-21
Lc 15,1-3.11-32
V Dom.
Ez 37,12-42
Jr 31,31-34
Is 43,16-21
Rm 8,8-11
Hb 5,7-19
Fl 3,18-14
Jo 11,1-45
Jo 12,20-33
Jo 9,1-11
Dom. de Ramos
Mt 21,1-11
Mc 11,1-10
Lc 19,28-40
Is 50,2-7
=
=
Fl 2,6-11
=
=
Mt 26,1427,66
Mc 14,115,47
Lc 22,1423,56


As leituras do Antigo Testamento se referem à história da salvação, tema muito próprio da catequese quaresmal. Cada ano tem uma série de textos que apresentam diacronicamente as diversas etapas desta história, desde o princípio até a promessa da Nova Aliança. As seguintes leituras, numa perspectiva distinta e sincrônica, completam o significado de cada domingo. Os temas nucleares do I e do II domingos dos três anos são coincidentes: Cristo, o Servo, atravessa o deserto conduzido pelo Espírito, e é confirmado como enviado do Pai para cumprir a missão de salvação. Os evangelhos respectivos são tirados dos sinóticos.

Os temas do III, do IV e do V domingos do ano A são centrados na água viva, na luz e na Ressurreição, respectivamente. No ano B, aludem a outros tantos sinais do mistério pascal: o templo, a serpente de bronze e o grão de trigo, tirados do IV Evangelho. Os temas do III ao V domingos do ano C formam a série “da misericórdia divina”: interpretação de alguns fatos lutuosos, o filho pródigo e a adúltera. Os textos pertencem ao Evangelho segundo Lucas, exceto o último, tirado de São João.

As orações do dia (coletas) e os prefácios próprios do I e do II domingos e do III, do IV e do V domingos, quando são lidos os evangelhos do ano A, completam o quadro. Os textos do ofício giram em torno de aspectos gerais da Quaresma e do mistério pascal de Jesus Cristo, especialmente no V domingo e no de Ramos. O ofício das leituras dos domingos da Quaresma propõe a lição que corresponde ao Êxodo (I, II e III dom.) e do Levítico (IV dom.), dado que esses livros são lidos desde o começo da Quaresma. No V domingo, começa a leitura da Carta aos Hebreus. A leitura patrística dos domingos leva em conta os grandes temas evangélicos dominicais do ciclo A. O I, o II, o III e o IV domingos têm em comum as leituras breves das laudes, do ofício do meio-dia e das vésperas, assim como o V domingo e o Domingo de Ramos.

No Domingo de Ramos, proclama-se o relato da entrada de Jesus em Jerusalém no rito da bênção dos ramos, e a Paixão do Senhor na missa, cada ano segundo o respectivo sinótico. As demais leituras da missa e o salmo falam da atitude do Servo, completando-se o quadro com a lição bíblica do ofício das leituras (Hb 10,1-18) e a de santo André de Creta.


Fonte: MARTÍN, Julián López. A Liturgia da Igreja: teologia, história, espiritualidade e pastoral. São Paulo, Paulinas, 2006

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