O Advento
“Adventus” significa “vinda”. Deus
vem à humanidade e esta é uma dimensão fundamental da nossa fé.
Vivemos a nossa fé quando estamos
abertos à vinda de Deus, quando perseveramos no Advento. [...] a Virgem Maria
estava aberta à vinda de Deus. Ela nos introduz no Advento.
Penso, acima de tudo, no Advento que
se realiza no Sacramento do Santo Batismo. Eis que um homem vem a este mundo:
nasce como filho de seus genitores; vem a este mundo com a herança do pecado
original.
Os pais, sabendo dessa herança e
inspirados pela fé nas palavras de Cristo, levam o filho para batizar.
Desejam abrir a alma do filhinho à
vinda do Salvador, ao seu “Advento”.
Deste modo, o Advento indica o início
da nova vida: arranca-se, de certo modo, do recém-nascido, o selo do pecado
original e ele recebe o enxerto da nova vida, da vida divina.
Mas o Cristo não vem “de mãos vazias”:
Ele nos traz a vida divina; quer que tenhamos a vida, e a vida em abundância (cf.
Jo 10,10).
Cada Paróquia é um lugar onde se
fazem batizados... Assim a Paróquia vem a ser o lugar da “Vinda”: continuamente
persevera no Advento e em cada novo paroquiano aguarda a “Vinda do Senhor”.
JOÃO PAULO II
Os domingos do Advento
O Advento é
desconhecido em Roma antes do século VII. O Natal não tinha preparação especial
então, pois as têmporas de dezembro eram ainda independentes. As primeiras
notícias de alguma preparação para o Natal vêm do Concílio de Zaragoza (380).
Os formulários de missa que se encontram sob o título De adventu Domini, no final dos sacramentários gelasianos (de
origem romano-galicana), provavelmente tinham a ver não com a preparação do
Natal, mas sim com a lembrança da última vinda de Cristo, como sugere sua
colocação. No entanto, essa temática se viu atraída aos poucos pela lembrança
da expectação que precedeu a manifestação histórica do Messias. O Rótulo de Ravena, embora seja do século
V, se move já nessa perspectiva. As liturgias orientais, por sua vez, nunca
tiveram celebrações específicas do Advento.
Por outro
lado, percebem-se também flutuações quanto ao número de semanas do Advento
original: seis em alguns testemunhos e quatro em outros. O número de quatro
domingos foi fixado somente a partir dos séculos VIII-IX.
A Igreja, ao
celebrar o Advento unido ao Natal, está consciente de cumprir ao mesmo tempo a
espera do antigo Israel na expectativa messiânica, e sua própria espera da
consumação da filiação divina comunicada por Cristo em sua vinda histórica.
“Por isso, a
criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus.” (Rm 8,19)
“Caríssimos,
desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de
ser. Sabemos que, quando o Cristo aparecer, seremos semelhantes a Deus,
porquanto o veremos como Ele é.” (1Jo 3,2)
Essa temática
descansa sobre os quatro domingos, seguindo as linhas do Lecionário da missa,
que dá unidade aos três ciclos A, B e C:
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Ano A
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Ano B
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Ano C
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Significado
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I Dom.
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Is 2,1-5
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Is 63,16-17;
64,1.3-8
|
Jr 33,14-16
|
Domingo da Vigilância
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Rm 13,11-14
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1Cor 1,3-9
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1Ts 3,12 ─ 4,2
|
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Mt 24,37-44
|
Mc 13,33-37
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Lc 21,25-28.34-36
|
||
II Dom.
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Is
11,1-10
|
Is 40,
1-5.9-11
|
Br 5,1-9
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Domingo da Conversão
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Rm
15,4-9
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1Pd
3,8-14
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Fl
1,4-6.8-11
|
||
Mt
3,1-12
|
Mc 1,1-8
|
Lc 3,4-6
|
||
III Dom.
|
Is 35,1-6.10
|
Is 61,1-2.10-11
|
Sf 3,14-18
|
Domingo da Alegria
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Tg 5,7-10
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2Ts 5,16-24
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Fl 4,4-7
|
||
Mt 11,2-11
|
Jo 1,6-8.19-28
|
Lc 3,10-18
|
||
IV Dom.
|
Is
7,10-14
|
1Sm
7,1-5.8.12.14.16
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Mq 5,2-5
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Domingo da Esperança
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Rm 1,1-7
|
Rm
16,25-27
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Hb
10,5-10
|
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Mt
1,18-24
|
Lc
1,26-38
|
Lc
1,39-45
|
Com efeito, essas leituras fazem com que o I DOMINGO gire todo ele em torno da vigilância e da prática das boas obras da luz na espera escatológica da última vinda do Senhor. A leitura patrística deste domingo medita sobre os dois adventos de Cristo. A esperança é a nota dominante como atitude fundamental da vida cristã.
O II
DOMINGO, embora dentro da mesma tônica escatológica, introduz os avisos de João
Batista: “Preparai os caminhos do Senhor”. Sua linguagem veemente, inspirada em
Isaías e Baruc (1ª leitura, anos B e C), chama à conversão e à mudança de vida.
A leitura patrística atualiza a figura do Batista na pregação dos enviados de
Cristo. Tanto nesse domingo como no anterior, as antífonas e as orações da
missa convidam a sairmos corajosos para o encontro com o Senhor que vem.
O III DOMINGO
do Advento, denominado Gaudete (alegrai-vos!),
segundo o conselho paulino de Fl 4,4-5 (2ª leitura, ano C), está todo ele
marcado pela alegria “porque o Senhor está perto” (cf. oração do dia).
Novamente o Batista reflete as atitudes do Advento, como destaca a leitura
patrística do ofício.
O IV DOMINGO
se situa já nos acontecimentos que precederam o nascimento de Jesus. É o
domingo das anunciações a José (evangelho do ano A), a Maria (evangelho do ano
B) e a Isabel (evangelho do ano C), o domingo em que a figura de Maria, a
Mulher (Nova Eva) e Mãe do Senhor, confere uma nota singular a toda a
celebração.
A Liturgia
das horas dos domingos do Advento contribui para delinear a celebração da
espera nas duas vindas de Cristo. O ofício das leituras segue o livro de Isaías
em união com as férias. Para as demais horas, usa-se o saltério das quatro semanas
com antífonas, leituras breves, responsórios e preces próprias.
Os dias de semana do Advento
São o
complemento dos domingos, mas formam dois blocos, até o dia 16 de dezembro e
desde o dia 17 até o dia 24. Nos dias de semana até o dia 16 de dezembro se lê
o livro de Isaías como primeira leitura da missa, seguindo a mesma ordem do
livro, sem excluir os fragmentos que são lidos também nos domingos. Os
evangelhos destes dias estão relacionados com a primeira leitura. No entanto,
desde a quinta-feira da segunda semana, as leituras do evangelho se referem a João
Batista, de maneira que as primeiras leituras continuam o livro de Isaías ou
contêm um texto relacionado com o evangelho. Na última semana antes do Natal,
são lidos na primeira leitura textos proféticos relacionados com o evangelho, e
neste os acontecimentos que preparam o nascimento do Senhor.
O Lecionário
patrístico do ofício das leituras oferece, durante as férias até o dia 16 de
dezembro, uma ótima meditação sobre a segunda vinda de Cristo e sobre as
atitudes no Advento. A partir do dia 17 são um comentário dos evangelhos das
missas. Nas outras horas do ofício, repetem-se a cada semana as séries de
leituras breves, responsórios e preces, com grande abundância de textos.
Uma
característica importante dos dias da semana a partir do dia 17 é o uso das
célebres “antífonas do Ó” nas vésperas e no aleluia do missa. Essas antífonas
são uma belíssima recriação poética dos títulos messiânicos de Cristo. As
orações destes dias, tomadas em parte do Rótulo
de Ravena, possuem uma notável inspiração mariológica.
O dia 24 de
dezembro tem uma missa da manhã que é toda uma abertura do mistério do Natal.
Inclusive a oração do dia é dirigida ao próprio Jesus, contra o que é habitual
na liturgia romana. Uma ou outra vez os textos do ofício anunciam: “Hoje
sabereis que o Senhor vem”.
Fonte: MARTÍN, Julián Lopéz. A Liturgia da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 373,379-382
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