Toque do Espírito

Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz.

Tomás de Kempis

A Divina Misericórdia de Deus em Jesus, Seu Filho


Hoje é dia da Festa da Misericórdia, portanto, nada melhor do que falar sobre a misericórdia de Deus. Ouvimos tanto falar desse Deus misericordioso, mas poucas vezes compreendemos o que isso significa. Para falar a verdade, se soubéssemos realmente o tamanho da misericórdia divina e o que ela significa, nossa vida teria mais sabor e mais ânimo.


Eclo 35
“26. A misericórdia divina no tempo da tribulação é bela; é como a nuvem que esparge a chuva na época da seca.”

Esse texto de eclesiástico vem mostrar que a misericórdia é como a chuva que rega o terreno seco. Para aquele povo, que vivia em uma região desértica, a chuva era uma grande bênção que vinha para trazer vida e fartura nas plantações, como ainda acontece hoje, principalmente nos lugares de clima seco. Quanta a alegria ao ver as nuvens carregadas, prontas para derramar sobre a terra o frescor e força nova da chuva!

Assim é também a misericórdia de Deus, que está sempre pronta para derramar sobre uma chuva de bênçãos. Deus quer irrigar nossa vida com suas graças, para fazer brotar em nós os frutos da santidade. É chuva que vem para aliviar o calor do cansaço, das aflições, do pecado, do sofrimento...

Mas algo ainda chama a atenção também. Essa chuva só tem tamanha beleza no tempo da tribulação. Isso acontece porque quando estamos aparentemente “de bem com a vida” não enxergamos as belezas que Deus realiza constantemente em nossas vidas. Muitas vezes é preciso experimentar a sêca, o deserto espiritual, para desejarmos ardentemente a chuva de misericórdia que vem de Deus.

Lc 1
“49. porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.
50. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.”

Esse trecho do Magnificat, proferido por Maria, mostra que essa misericórdia de Deus não faz distinção de pessoas, mas se derrama em qualquer época sobre todos aqueles que o temem.

Temer a Deus é comprometer-se a fé. O temor de Deus é o reconhecimento do Pai como o Todo-Poderoso e o compromisso com sua vontade. Ora, se verdadeiramente reconhecemos Deus como Todo-Poderoso estamos afirmando que Ele está acima de tudo e, portanto, é maior que qualquer problema. Por isso é o temor de Deus é um ato de fé. É acreditar firmemente que Deus, que tudo pode, pode e quer nos dar o melhor.

Desta forma, fica claro que para recebermos as graças de Deus é preciso primeiramente acreditar que tais graças são possíveis de ser realizadas pelo Senhor Deus de misericórdia. Acreditar em amor poderoso e misericordioso de Deus e comprometer-se com sua vontade são as chaves para testemunhar Suas maravilhas em nossas vidas.

2Cor
“3. Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação,
4. que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”

Durante todo ano e, sobretudo, na festa da Divina Misericórdia Jesus quer nos mostrar Seu amor sempre pronto a nos consolar. Afinal, Ele é o Pai das misericórdias. Mas existe algo que não pode ser esquecido: as graças de Deus não existem unicamente para mim, mas para todos quantos dela precisarem. Por isso mesmo Jesus disse também no sermão da montanha que “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

Isso significa que aquilo que recebemos de Deus é para nosso bem, mas também para o bem de todos, pois somos todos membros de um mesmo corpo do qual Jesus é a cabeça. Não quer dizer que Jesus faz um comércio do tipo “Só te dou isso se você der aquilo ao seu irmão”, mas seu amor nos ensina que assim como queremos misericórdia devemos dar misericórdia.

Nosso coração tem uma porta que serve para entrada e saída. Jesus está sempre à porta esperando para dar sua misericórdia, mas não podemos recebê-la se não abrimos a porta para dar misericórdia ao irmão. Jesus não é mal-educado para entrar no coração alheio. Ele espera que o dono abra suas portas para poder ofertas Seus presentes de graças.

Tt 3
“4. Mas um dia apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens.
5. E, não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, ele nos salvou mediante o batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo,
6. que nos foi concedido em profusão, por meio de Cristo, nosso Salvador.”

Não recebemos as graças de Deus por merecimento nosso, mas por conta de Sua infinita misericórdia. Por isso, a fé deve ser maior que a tristeza do pecado, pois a misericórdia de Deus supera toda a nossa miséria espiritual.

Claro que só podemos receber essa misericórdia se estivermos de coração contrito, arrependidos de nossos erros. Mas, ao mesmo tempo, devemos conservar a alegria da certeza de que o amor de Deus é maior que qualquer erro e sua misericórdia está sempre pronta para nos perdoar e nos renovar pela sua graça, através de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus não realizou batismos durante sua vida pública aqui na terra, então como poderia ter sido instrumento de realização desse batismo de regeneração? A resposta é simples e ao mesmo tempo de imensa beleza. A imagem de Jesus misericordioso nos mostra que do peito de Jesus continua saindo sangue e água. A água que nos purifica de nossos pecados, presente no Batismo, e o sangue que santifica, presente na Eucaristia.

Se Jesus quis se mostrar misericordioso de forma que ainda hoje nos renova e santifica, então confiemos em Seu amor e não nos detenhamos em nossos pecados. A garantia da felicidade é deixar-se banhar continuamente por esta água e este sangue que se derramam incessantemente do coração de Jesus, para nos conduzir à vida eterna.

Lc 10
“30. Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto.
31. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante.
32. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante.
33. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão.
34. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele.
35. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei.
36. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?
37. Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo.”

Para encerrarmos esta nossa reflexão nada melhor do que estas palavras do próprio Jesus que resumem tudo quanto foi dito até aqui. Jesus é como esse samaritano. Ele quer cuidar de nossas feridas. Quer derramar sobre nossas marcas o Seu bálsamo de graças. Jesus quer tratar de cada um de nós e nos curar de nossos males, sejam eles quais forem.

Ele não precisa dar dinheiro, pois já pagou um preço alto por cada um, entregando sua própria vida à morte de cruz. E dessa mesma cruz ele abriu Seu coração para derramar Seus sangue e água misericordiosos.

Mas como já vimos antes, devemos nós também sermos misericordiosos uns para com os outros e por isso Jesus nos dá um ensinamento duplo: deixemos Ele cuidar de nossas feridas, mas sejamos nós também responsáveis por cuidar das feridas dos nossos irmãos.

Os filhos de Deus devem refletir Sua graça. Sejamos, pois, propagadores das bênçãos de Deus. E façamos assim como São Paulo ensinou: quanto mais recebermos do Pai mais teremos a dar aos nossos irmãos, para honra e glória de Deus, através de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se dignou cuidar de nossas misérias para que possamos cuidar das misérias uns dos outros.

Tayson Queiroz

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